quarta-feira, 10 de abril de 2013

O operário em desconstrução




Airton Souza
Operário fragmentando a labuta diária
espremendo a massa de um lado a outro
rebolando o objeto como que em dança
degustando o sol abaforido
não há tempo para reclamações
o cimento pode pedrejar
suor descendo salgado sem vitamina
o mundo segue aos seus pés
acima, o céu parece esperar calmamente
pela sua alma
abaixo, são outros homens
gabando-se da liberdade
rumando com sorrisos falsificados
a indústria capitalista os esperam
não como céu, calmo
são compromissos de horas exatas
enquanto o arroz e o  feijão esfria
mesmo estando em sombra a marmita
coração pulsando desassossegado
dúvidas em não saber a verdade
já se alimentaram os seus filhos?
é preciso continuar o trabalho
ainda vai demorar cair a tarde
a noite é sonho apenas
que ainda não pode ser sonhado por inteiro
sonha-se a prestações
é preciso continuar o trabalho
pausa rápida para a comilança
que desce friamente
rumando para o estômago
retorno breve para dar vida a construção
colher e prumo na mão
cavalete, maquita, enxada...
sobe a escada o operário
não vê o fio elétrico que o chama
chão o espera como a cama eterna
Cai sem as batidas do coração
Não retornará para a casa vivo o operário
São lembranças vagas os seus sorrisos
Gravadas em imagens fotográficas para sempre.

(Airton Souza de Oliveira. O cair das horas. Editora Scortecci, 2011)

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